Na Sessão Plenária em 29 de Setembro de 1976, o Tribunal de Justiça prestou homenagem póstuma ao Ministro MÁRIO GUIMARÃES.
Grande magistrado exerceu com extraordinário destaque os cargos de Desembargador deste Tribunal e Ministro da Corte Suprema.
Para traduzir os sentimentos de pesar deste colegiado falará o ilustre Desembargador Afonso André, que esta com a palavra.
O Desembargador Bruno Afonso de André proferiu este discurso:
Senhor Presidente:
No ultimo domingo, acompanhamos com pesar os restos mortais do Ministro MÁRIO GUIMARÃES, cujo corpo repousa agora numa cova igual às outras em um cemitério recoberto de grama, arbustos e flores esparsas, formando um ambiente simples e grandioso, à semelhança do homem que ele foi.
Hoje reverenciamos sua memória, sensíveis ao grande exemplo que nos deixou de juiz insigne, grande homem público e inexcedível Presidente deste Tribunal e do Tribunal Regional Eleitoral de nosso Estado.
Começando como Promotor Público em 1914, esteve nessas funções em Sarapuí, Apiaí, Araraquara, Jacareí e Pinhal; tornou-se Juiz Substituto em Jambeiro, foi promovido às entrâncias da carreira, passando por Itatiba, Rio Preto e 1ª Vara Cível da Capital. Em agosto de 1933 foi convocado para a Chefia da Polícia do Estado, em cujas funções sobrepôs sua autoridade firme e esclarecida, em época difícil, às ameaças e ao arbítrio.
Nesta Corte continuou a ministrar as lições de juiz objetivo, seguro e aberto ao aperfeiçoamento jurídico, a que deu grande brilho.
Passados os anos como primeira figura da Magistratura estadual, concorreu sobremaneira para a melhoria das condições materiais dos órgãos judiciários, a cuja disciplina dedicava permanente vigilância. Desdobro de modo especial junto aos magistrados de primeira instancia, que nele encontravam a orientação e o apoio necessários ao melhor desempenho da judicatura. Seu estímulo para nossa formação de juízes foi uma grande ventura, de beneficio inestimável.
Em 1945, dependeu de sua superior ação diretora, como chefe da Justiça Eleitoral Regional, o trabalho que possibilitou as eleições gerais, necessárias à, volta do regime constitucional. Parecia não haver tempo,nem meios para essa meta, mas o Presidente superou todas as enormes dificuldades; e graças, inclusive, ao espírito de equipe transmitido por ele a todos os juízes e servidores, foi satisfeito o anseio civico de que a nação estava possuída.
Daqui saiu para ser Ministro do Supremo Tribunal Federal, até 1956, quando se aposentou. No Supremo, continuou seu trabalho judicante com a sabedoria e independência que marcava sua personalidade, sobrepondo a imparcialidade, como sempre, a qualquer distorção.
Voltou para esta Capital, sua terra, onde viveu seus últimos anos com modéstia e dignidade dos homens realmente grandes, não se esquecendo deste Tribunal.
Deixou umas excelentes obras de direito, entre elas o clássico “Direito de Revista”.
Conservou o afeto à Justiça e a ordem constitucional, a que sempre foi fiel, por natural convicção e sensato realismo.
Foi um homem raro que engrandeceu sua terra e sua gente.
Que a memória de Mario Guimarães permaneça entre nós, para nosso orgulho e continuidade de seu exemplo.
A esta manifestação, segui-se a do Desembargador José Carlos Ferreira de Oliveira:
Senhor Presidente, Senhores Desembargadores:
Quero manifestar de expresso minha solidariedade a esta homenagem tão bem focalizada pelo ilustre Desembargador Bruno Afonso André.
Senhor Presidente:
Ingressei na magistratura através de concurso presidido pelo Desembargador Mario Guimarães. E desde essa época nutri pelo ilustre jurista e magistrado a maior admiração, porque nele sempre encontrei um amigo, um verdadeiro mestre do direito e mestre de caráter, e de atitudes retilíneas, um homem verdadeiramente digno de respeito e acatamento.
Em todas as fases de minha carreira, algumas difíceis quando se tratou da reconstitucionalização do país em 1945, tanto eu como os demais magistrados paulistas encontramos na pessoa inconfundível de MÁRIO GUIMARÃES, então presidente do Tribunal Regional Eleitoral, acumulando essas funções com a de Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior apoio e segurança, a maior garantia para o prestígio do Poder Judiciário.
Posteriormente, Senhor Presidente, quando guindado a a presidência deste Tribunal pelo voto magnânimo de meus colegas, recebi do Ministro MÁRIO GUIMARÃES a maior solidariedade. Tivemos então neste Tribunal,, na sessão magna em que foram conferidos os Colares do Mérito Judiciário, aos juízes paulistas de segunda instância e também a seus grandes vultos do passado que exerceram a presidência deste Tribunal, a suprema honra e alegria de ouvir do Ministro MÁRIO GUIMARÃES palavras altamente significativas para a justiça. Palavras à altura da tradição e da honra deste Tribunal.
Essas palavras, tão formosas quão oportunas, Senhor Presidente, ficaram gravadas em nosso coração e em nossa memória, porque são conceitos que honram a justiça paulista, que sempre dignificou o País em todas as épocas.
A Sua Excelência, o Ministro MÁRIO GUIMARÃES, nosso preito de saudade e de reverência.
É o que tinha a dizer.
(texto tirado da Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, volume 42, 5º bimestre, 1976, Lex Editora S.A)
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